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Já está em andamento o branqueamento azul (com algumas pinceladas esverdeadas) de mais um campeonato que poderá ser ganho pelo Benfica. Os encarnados só por três vezes foram campeões nos últimos 20 anos. Manifestamente pouco, sem dúvida, mas isso não chega para convencer os mais cépticos de que o Benfica não é, de todo, o clube que controla a arbitragem em Portugal. Com o surgimento das famosas escutas, ainda hoje consultáveis no youtube, alguns dos cépticos deram o braço a torcer… mas só até certo ponto. Ok, afinal não é só o Benfica que controla. O FC Porto também manda alguma coisinha. Mas isso, no início desta semana, pouco ou nada interessava.

Em 2004-05 o Benfica foi campeão – onze anos depois. Porém, não teve qualquer mérito nessa façanha. A mudança do jogo contra o Estoril para o Estádio do Algarve, que proporcionou uma receita extraordinariamente mais alta para os canarinhos, foi vista como uma afronta e uma jogada suja. A competição ganha pelo Benfica ficou conhecida como ‘O Campeonato do Estorilgate’. A esse grandioso pecado (já repetido, por exemplo, este ano quando o FC Porto jogou contra o Olhanense no mesmo Estádio do Algarve), tão ou mais vil do que comprar árbitros, juntaram-se decisões polémicas esporádicas das equipas de arbitragem que rapidamente foram tidas como universais. Tirou-se a conclusão de que o Benfica fora beneficiado durante todo o campeonato, enterrando-se os casos em que ocorreu precisamente o contrário. Por exemplo, no Penafiel-Benfica, jogo anterior ao decisivo Benfica-Sporting, o famoso Pedro Proença fez vista grossa a três penaltis (daqueles à séria) na área dos penafidelenses. O Benfica perdeu o jogo e viu o Sporting colar-se a si, em igualdade pontual. Um entre vários pormenores que deu jeito esquecer. No final, o Benfica ganhou na Luz ao Sporting mas o Campeonato foi ganho com o ‘Estorilgate’.

Concluía-se facilmente que o Benfica controlava os meandros do futebol nacional. Porém, só voltaria a ser campeão cinco anos depois. Pelo meio, mais uma série de campeonatos “limpinhos” para o norte, onde esteve incluído um em que os maganos centralistas tiraram a enorme quantia de seis pontos a um FC Porto que liderava com mais que 20 de vantagem. A razão? Isso não interessa. Interessa é que o Benfica era campeão em Maio de 2010 (mal seria se não o fosse com a equipa que tinha), mas tal feito voltava a dever-se a factores externos. Desta vez, foi o ‘Campeonato do Túnel’, como referência ao túnel da Luz que ‘viu’ Hulk, Fucile, Sapunaru, Hélton e companhia esmurrarem e pontapearem os stewards que por lá andavam. A este juntou-se o túnel de Braga e consequente suspensão do santinho e super-craque Vandinho. Cardozo foi expulso no final da primeira parte desse jogo que o Benfica acabou por perder, depois de ser agredido por André Leone, mas isso não foi relevante. Importante foi que Vandinho foi suspenso pelo ‘simples facto’ de ter andado, também ele, aos murros e às cabeçadas no túnel de Braga. O Braga foi empurrado para cima na parte final do campeonato, com golos marcados depois da bola ter saído das quatro linhas e com penaltis daqueles dos blocos de apanhados. Mas isso não interessou. Foi o Campeonato do Túnel, e ponto final.

Em 2012-13 o Benfica pode voltar a ser campeão. Terá, para isso, que ganhar três dos próximos quatro jogos. Ou ‘apenas’ dois desde que um deles seja contra o FC Porto. Andava um sentimento estranho no ar. O Benfica seria, finalmente, campeão por mérito próprio? À 26ª jornada surgiu a salvação. O Benfica ganha ao Sporting mas ficam ‘numerosos penaltis’ por marcar para os leões. O mau da fita foi João Capela, o centralista faccioso. Os tentáculos do Benfica estavam novamente bem estendidos.

Tenho a minha opinião, que vale tanto quanto a de qualquer um. Nenhum dos lances me parece ser um penalty evidente. Entre os próprios sportinguistas, não é unânime o número nem os casos passíveis de grande penalidade. Uns apontam para 2, outros para 1 e até há quem diga que são 4. Uns defendem que era o lance sobre o Ricky, outros que era o lance sobre o Capel. Difícil é encontrar quem tenha a mesma opinião e até mesmo um caso passível de penalty que seja universalmente aceite como erro de Capela. A falta de consenso em volta de lances tão duvidosos dentro dos próprios adeptos do clube presumivelmente lesado deixa no ar alguma desconfiança sobre a legitimidade dos protestos. Porque protestar só porque há muitos lances duvidosos, não é sinónimo de que se tem razão para tal. Apesar de defender que nenhum dos lances é de penalty evidente (como o foi, por exemplo, o que ficou por assinalar sobre Gaitán na temporada passada em Alvalade), aceito que possa ser eu quem está errado. Aceito que, sobretudo, o primeiro e segundo lances (que envolvem Ricky e Capel) sejam de análise duvidosa. Assim como terei que dizer que, o primeiro destes casos, nasce de uma falta bem mais evidente sobre Lima cinco segundos antes do envolvimento entre Garay e Ricky.

E como aceito que possa ser eu quem está enganado, faço a minha análise partindo do princípio que o Benfica foi beneficiado. Para muitos, a suposta ajuda deste fim-de-semana será muito mais importante no desenrolar do ‘Campeonato do Capela’ do que os jogos em que o Benfica não ganhou com influência de decisões de terceiros. Se fomos beneficiados neste jogo, assino já por baixo que se entreguem os três pontos ao Sporting (apesar de, no fundo, acreditar que o Benfica daria a volta ao jogo caso se apanhasse em desvantagem cedo). Mas também terão que devolver aos encarnados os quatro pontos que lhes foram tirados na recepção ao Braga (quando Cardozo marcou um golo limpo já na parte final, que faria o 3-2) e na deslocação a Coimbra (dois penaltys fantasma para a Académica que permitiram o 2-2 final).

Como essa reposição da verdade não acontecerá, resta esperar que este seja mesmo o ‘Campeonato do Capela’. Porque isso significará ver o Benfica campeão.

joni_desenhoJoni Francisco

8 thoughts on “O Campeonato do Capela

  1. Muito bom texto, sim senhor! País sem vergonha, num país de imbecis é muito fácil fazer propaganda, porque a generalidade é estúpida demais para pensar por si mesmo. O Benfica é grande demais para portugal…

  2. Clap, clap, clap, clap. Na mouche, caro amigo. É como diz o Manuel Damásio, a propósito daquele cujo nome não pode ser pronunciado, mas que dá conselhos matrimoniais a árbitros em sua casa, apelida de burros os que comentam a arbitragem nacional e vem “elogiar” a arbitragem de João Capela: “Quando não faz uma boa época, porque o FC Porto tinha a obrigação de fazer muito melhor, passa-se a mensagem que a culpa é dos árbitros. É uma desculpa para limpar a péssima época que estão a fazer.”
    Esta gente pensa que nós andamos cá há 2 dias, e que só começámos a ver futebol ontem à tarde.

  3. Medíocres são certas fachadas que não nos reportam nem argumentam nada: apenas gritam (com os pontos de exclamação muito sensíveis e precoces…) e apontam o dedo. Tal e qual como os fanáticos, sejam os religiosos, ou os desinteressadamente ignóbeis. Cada um é, numa democracia, dono da sua opinião. E cada outro é livre de concordar, ou não – desde que respeite e se faça respeitar. O autor limitou-se a analisar consoante o seu raciocínio, não escondendo nunca poder, às tantas, ser parcial. Aqui ninguém se julga acima da moral e da verdade – somos todos gente, não temos a pretensão de ter o monopólio da imparcialidade e sabedoria suprema. Quem gosta volta a ler, quem não gosta é livre de criticar, desde que de forma activa e construtiva. Quem quer ter um surto de compreensão lenta, pode sempre não voltar a ler, e quem sabe beber uma boa e aconchegadora chávena de «vou ficar calado, é um favor que faço a mim mesmo». Mas isto é só uma sugestão que li num livro.

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